Definitivamente, o Brasil não é o pais do futebol. O Brasil pode até ser o país da Copa, mas não do futebol. E os números comprovam. Em pesquisa realizada em diversos países sobre as preferências da população, pouco mais de 30% dos brasileiros afirmaram acompanhar futebol. Na Argentina, pra se ter uma idéia, esse percentual superou os 45%. Os dados foram apresentados pelo cronista esportivo Juca Kfouri em palestra realizada na Unisc no mês de maio.
Nossos hermanos, inclusive, lideraram esse quesito "acompanhar futebol" e são, com folga e justiça, o país do futebol. Enfatizando a teoria de Kfouri, o Brasil pode ser considerado, sim, o País da Copa. Isso porque, de quatro em quatro anos, como um fenômeno social, o Brasil se fecha, e literalmente pára, em torno da Copa do Mundo. Mesmo aquelas pessoas que não assistem a uma única partida durante quatro anos, páram diante da TV para torcer pela seleção canarinho na Copa do Mundo.
Ate aí, tudo bem. É mesmo da natureza do brasileiro: onde tem festa, "to dentro". E é mais ou menos isso que ocorre. Tem até o malandro que chega no bar, senta no meio da torcida, vestido de verde e amarelo, camisa da Copa de 82, corneta na mão e pergunta para o torcedor ao lado: contra quem é hoje mesmo?
O problema, ao meu ver, é quando esse torcedor sazonal, que torce de quatro em quatro anos, se acha no direito de julgar e questionar a seleção brasileira, técnico, jogadores ou mesmo o trabalho realizado por toda a comissão técnica. Entram nas rodas de conversa com o seu curto conhecimento e querem argumentar com quem acompanha futebol todos os dias, o que acaba causando alguma irritação, confesso.
É o que se vê e se ouve agora, por exemplo. De repente, todos querem opinar sobre a seleção. Pior, ressucitam a velha síndrome de vira-lata, que acha sempre que a grama do vizinho é mais verde. Nestes dias que antecedem a Copa do Mundo, ouvem-se críticas e comentários dos mais absurdos sobre o Brasil e elogios rasgados aos adversários. Claro, eles sempre são melhores, mais habilidosos.
Com certeza, o torcedor sazonal não irá lembrar que, há apenas um ano, o Brasil foi campeão da Copa das Confederações, competição em que goleou a Itália por 3x0. Poucos meses antes, já havia derrotado a azzurra por 2x0 em amistoso. Ele ambém não deve recordar que o Brasil é o atual campeão da Copa América, quando derrotou a Argentina na decisão com um chocolate de 3x0. Aliás, a Argentina voltou a ser derrotada pelo Brasil nas eliminatórias, em 2009, por 3x1, na casa deles. Nos últimos cinco jogos entre as duas equipes, 13x2 Brasil. Na era Dunga, 9x1 em quatro jogos.
Falando em eliminatórias, o Brasil terminou em primeiro lugar, diga-se de passagem. Além disso, é lider do ranking da Fifa. Provavelmente o torcedor sazonal não saiba disso. E não quero dizer que deva saber, nem mesmo que todo esse retrospecto indique que o Brasil seja o campeão da Copa do Mundo. Mas é uma pena ver que, mesmo com um trabalho impecável, Dunga seja questionado ou cobrado por pessoas que nem devem lembrar, ainda, que o Brasil derrotou a Inglaterra no início deste ano, outra das equipes apontadas como favoritas.
A Copa está aí, e apesar de o mundo todo considerar o Brasil favorito, aqui o trabalho sempre é questionado, como foi Felipão em 2002 ao conquistar o Penta. Em 2006 era Parreira, o respeitado treinador que levou para a Copa todas as grandes estrelas. Deu no que deu. E aposto que poucos lembram que em 2006 todos queriam o pescoço de Ronaldinho Gaúcho. E agora, o torcedor sazonal reclama da não convocação do garoto mimado da Nike. Vai entender...
Em suma, o torcedor brasileiro não torce, só atrapalha. Enquanto nossos vizinhos têm orgulho de sua seleção independente de quem vista a camisa do seu país e mesmo sem ganhar título algum, no Brasil a seleção jogou três das últimas quatro decisões de Copa do Mundo e, mesmo assim, nossos adversários são sempre os favoritos. Mas é da natureza do brasileiro. O quintal do vizinho é sempre mais bonito. Assim é no futebol, assim é na política, onde temos o líder mais respeitado em todo o mundo sendo ridicularizado dentro do nosso próprio país. Mas assim como no futebol, nossos eleitores hibernam e só acordam de quatro em quatro anos.
Grêmio e Corínthians
Há 11 anos